Repositórios de Recursos Educacionais Abertos

Introdução

No contexto do ensino superior, a integração de Recursos Educacionais Abertos (REA) constitui uma estratégia pedagógica essencial para promover a atualização contínua, a partilha de conhecimento e o desenvolvimento de competências técnicas alinhadas com as necessidades do mercado tecnológico (Wiley, 2014). Como professor assistente no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e coordenador de área de TI na ATEC – Academia de Formação, a seleção de repositórios REA adequados torna-se muito importante, não apenas para enriquecer as práticas letivas, mas também para fomentar uma cultura de conhecimento aberto entre estudantes / formandos e docentes / formadores.

Os repositórios que apresento de seguida foram selecionados pela sua relevância académica, pela qualidade dos conteúdos disponibilizados e pelo potencial de aplicação direta em qualquer ensino, tanto em unidades curriculares (ensino superior), unidades de competência (ensino profissional), bem como em projetos de investigação.

Partilho de seguida três repositórios que considero particularmente úteis para as minhas práticas docentes e de coordenação: o Repositório Aberto da Universidade Aberta (contexto nacional), o MERLOT (repositório internacional validado) e o OpenLearn (plataforma de aprendizagem aberta da Open University).

1. Repositório Aberto da Universidade Aberta (R UAb)

URL: https://repositorioaberto.uab.pt/

Repositório Aberto - Universidade Aberta

O Repositório Aberto da UAb é o repositório institucional de acesso aberto da Universidade Aberta, instituição pioneira em Portugal no ensino a distância e na adoção de metodologias de eLearning. Este repositório destaca-se pela sua missão de democratizar o acesso ao conhecimento científico produzido em contexto académico português, disponibilizando gratuitamente teses, dissertações, artigos científicos e recursos educacionais digitais (Nobre, 2020).

A escolha deste repositório prende-se com a sua orientação para o ensino online e para a pedagogia digital, áreas altamente relevantes para a formação em Tecnologias de Informação na ATEC, bem como em Engenharia Informática no ISEP, onde as metodologias de e-Learning e b-Learning são cada vez mais aplicadas. Além disso, o facto de ser uma fonte portuguesa garante recursos em língua portuguesa e contextualizados à realidade do ensino superior nacional.

Relevância para o meu trabalho

Enquanto coordenador de área de TI, considero essencial aceder a investigação aplicada produzida em contexto lusófono, especialmente em áreas como:

  • Pedagogia do eLearning e ambientes virtuais de aprendizagem
  • Tecnologias educativas aplicadas ao ensino profissional e superior
  • Modelos de avaliação online
  • Gestão de plataformas LMS (Learning Management Systems)

O repositório permite-me ainda identificar boas práticas pedagógicas documentadas em dissertações de mestrado e teses de doutoramento, que podem ser adaptadas às unidades curriculares que leciono, nomeadamente em disciplinas de Sistemas de Informação e Gestão de Projetos de TI.

Exemplos de aplicações

  • Consulta de dissertações sobre gamificação aplicada ao ensino de programação, para integrar estratégias motivacionais nas aulas práticas de desenvolvimento de software.
  • Análise de estudos sobre ferramentas de avaliação automática de código, úteis para implementar sistemas de autoavaliação em plataformas Moodle.

2. MERLOT – Multimedia Educational Resource for Learning and Online Teaching

URL: https://www.merlot.org/merlot/

O MERLOT é um dos repositórios de REA mais reconhecidos internacionalmente, destacando-se pela revisão por pares (peer-review) dos recursos disponibilizados e pela organização rigorosa por área disciplinar, tipo de recurso e nível de ensino (Yuan et al., 2008). Fundado em 1997, o MERLOT reúne uma vasta coleção de materiais educacionais multimédia, incluindo simulações, tutoriais interativos, estudos de caso, vídeos técnicos e exercícios práticos.

Para um docente de Engenharia Informática, a existência de recursos validados por especialistas da área é um critério de qualidade importante, criando maior fiabilidade técnica e adequação pedagógica dos materiais selecionados.

Relevância para o meu trabalho

O MERLOT oferece recursos especialmente valiosos nas seguintes áreas do meu trabalho:

  • Ciências da Computação e Programação: tutoriais de algoritmos, estruturas de dados, programação orientada a objetos, …
  • Redes e Sistemas Operativos: simuladores de redes, laboratórios virtuais, vídeos explicativos de protocolos de rede, …
  • Bases de Dados: exercícios interativos de SQL, modelação de dados, normalização, …
  • Desenvolvimento de aplicações: exemplos práticos de linguagens de programação e frameworks.

Como coordenador de área dos cursos de TI na ATEC, irei começar a utilizar o MERLOT para recomendar recursos complementares aos formadores, promovendo a utilização e criação de recursos de qualidade e a partilha de boas práticas pedagógicas entre os membros do departamento.

Exemplos de aplicação

  • Utilização de tutoriais interativos de algoritmos de ordenação e pesquisa para complementar as aulas teóricas inicias de Algoritmos e Estruturas de Dados.
  • Criação de listas de recursos validados para cada unidade curricular, disponibilizadas no Moodle institucional, facilitando o estudo autónomo dos formandos.

3. OpenLearn – The Open University

URL: https://www.open.edu/openlearn/

O OpenLearn é a plataforma de aprendizagem aberta da Open University (Reino Unido), uma das instituições de referência mundial em ensino a distância e educação aberta. O repositório disponibiliza gratuitamente centenas de cursos completos, módulos de aprendizagem autodirigida, vídeos, artigos e recursos interativos em diversas áreas do conhecimento, incluindo uma vasta secção dedicada à Tecnologia e Engenharia (Downes, 2010).

A escolha do OpenLearn justifica-se pela sua abordagem estruturada e pela qualidade pedagógica dos recursos, que seguem metodologias comprovadas de ensino a distância. Os materiais estão organizados em unidades de aprendizagem completas, com objetivos claros, atividades práticas e momentos de autoavaliação, facilitando a sua integração em contextos de aprendizagem formal e informal.

Relevância para o meu trabalho

O OpenLearn é particularmente relevante para:

  • Formação contínua de docentes: os cursos sobre pedagogia digital e design instrucional são úteis para capacitar a equipa de TI em metodologias de eLearning.
  • Recursos para estudantes internacionais: sendo em inglês, os materiais do OpenLearn ajudam os alunos a desenvolver competências linguísticas técnicas, essenciais para a sua futura empregabilidade, principalmente nas áreas de TI.
  • Áreas técnicas emergentes: o repositório é frequentemente atualizado com conteúdos sobre Inteligência Artificial, Cibersegurança, Cloud Computing, IoT e Data Science.
  • Modelo de boas práticas: os cursos OpenLearn servem como referência de design instrucional para desenvolvimento dos meus próprios materiais educacionais digitais.

Exemplos de aplicação

  • Recomendação do curso “Introduction to Cybersecurity” como preparação prévia para os alunos que frequentam a UC de Segurança Informática.
  • Utilização de módulos sobre “Cloud Computing” e “Data Management” como leitura complementar em unidades curriculares de Sistemas Distribuídos e Big Data.
  • Adoção de estratégias pedagógicas observadas nos cursos OpenLearn (nomeadamente o equilíbrio entre teoria, prática e reflexão) no design das minhas próprias unidades curriculares online.
  • Criação de percursos de aprendizagem personalizados para alunos com diferentes ritmos, combinando módulos OpenLearn com avaliações locais adaptadas ao contexto da ATEC.
  • Integração de recursos do OpenLearn em ações de formação para docentes sobre ferramentas digitais e metodologias ativas no ensino superior.

Conclusão

A seleção destes três repositórios (Repositório Aberto da UAbMERLOT e OpenLearn) resulta da interseção entre critérios de qualidade académica, relevância técnica para a área de Engenharia Informática e aplicabilidade prática no contexto do ensino superior e profissional português.

Estes repositórios permitem-me:

  • Diversificar as fontes de conhecimento, combinando perspetivas nacionais e internacionais
  • Garantir a fiabilidade e atualidade dos recursos utilizados, através de mecanismos de validação por pares
  • Promover a autonomia dos estudantes, disponibilizando materiais complementares de qualidade para aprendizagem autodirigida
  • Apoiar a inovação pedagógica, inspirando-me em boas práticas documentadas e validadas internacionalmente

Enquanto docente e coordenador de área de TI que procura integrar metodologias ativas, tecnologias emergentes e práticas abertas no ensino superior e profissional, estes repositórios contribuem para uma pedagogia de qualidade, inclusiva e alinhada com os desafios contemporâneos da formação em Ciências Informáticas.

A adoção de REA não é apenas uma opção tecnológica, mas uma postura ética e profissional que reconhece a educação como um bem comum, acessível e partilhável (Nobre & Mallmann, 2017).

Referências

Downes, S. (2010). Agents provocateurs. Stephen’s Web. http://www.downes.ca/post/54026

Nobre, A. (2020). REA: de A a … Manual para identificar, procurar, utilizar, reutilizar, produzir e partilhar Recursos Educacionais Abertos. Universidade Aberta.

Nobre, A., & Mallmann, E. (2017). Recursos educacionais abertos: Transposição didática para transformação e coautoria de conhecimento educacional em rede. Revista Linhas, 18(36), 179-198.

Wiley, D. (2014). The access compromise and the 5th R. Iterating toward opennesshttp://opencontent.org/blog/archives/3221

Yuan, L., MacNeill, S., & Kraan, W. (2008). Open Educational Resources – Opportunities and Challenges for Higher Education. Educational Cybernetics: Reports. University of Bolton Institutional Repository.

6 Replies to “Repositórios de Recursos Educacionais Abertos”

  1. Caro Pedro,
    Gostei muito da tua proposta pela clareza, fundamentação teórica e ligação à prática profissional no ensino superior e profissional.

    Na minha opinião, a seleção dos três repositórios revela critérios bem definidos de qualidade, fiabilidade e aplicabilidade, articulando de forma muito equilibrada os contextos nacionais e internacionais.

    Destaco, em particular, a pertinência do Repositório Aberto da Universidade Aberta, enquanto espaço de valorização da produção científica em língua portuguesa e de boas práticas em eLearning, algo que considero essencial para contextualizar a Educação Aberta à realidade nacional. Saliento também a forma como referes a utilização de dissertações e estudos aplicados que aproximam muito bem a investigação da prática pedagógica.

    A escolha do MERLOT evidencia uma preocupação clara com a qualidade pedagógica e técnica dos recursos, reforçando a importância da revisão por pares, o que, na minha opinião, é um aspeto crucial quando falamos de REA em áreas científicas exigentes como a Engenharia Informática.

    Já o OpenLearn surge como um excelente exemplo de REA estruturado, que vai além do recurso isolado e que inspira também o próprio design instrucional.

    Em suma, a tua reflexão final sublinha bem que a adoção de REA é mais do que uma opção técnica, é uma postura ética e profissional, alinhada com a ideia da educação como bem comum.

    Assim sendo, considero a tua proposta muito consistente e com grande potencial de transferência para outros níveis de ensino e áreas disciplinares.

    Parabéns pela partilha e pelo contributo para este debate.
    Saudações académicas e votos de Boas Festas, um Feliz Natal e um próspero Ano Novo,
    Carla Miranda

  2. Caro colega, Pedro as escolhas do acervo foram bem , e alguns deles não conhecia ainda como (OpenLearn – The Open University)i nteressante , e revelam o compromisso com a educação aberta, os repositorios são bem alinhados e mosntram o cuidado com a qualidade dos recurso usados , em sala de aula, deixando evidente a teoria da pratica, no contexto do ensino superior
    A preocupação com a autonomia dos alunos e a formação contínua dos professores também é valorizada.
    O texto nos tras experiência, consistência e uma conexão com a atual estado da educação , que se encontra em constante evolução,

  3. Caro Pedro,

    A tua seleção de repositórios revela uma articulação muito consistente entre qualidade académica, pertinência técnica e aplicabilidade prática, o que considero particularmente relevante no contexto do ensino superior e da formação profissional em áreas tecnológicas.

    Destaco, sobretudo, a forma como enquadras cada repositório a partir da tua experiência concreta, tornando clara a transferência possível dos REA para práticas pedagógicas reais. Essa ligação entre repositórios, unidades curriculares e exemplos de utilização contribui para uma leitura muito concreta do potencial dos REA.

    Parece-me também especialmente interessante a forma como o OpenLearn é apresentado não apenas como fonte de conteúdos, mas como referência de design instrucional, o que reforça a ideia de que os REA podem inspirar práticas pedagógicas mais estruturadas e intencionais.

    No conjunto, a tua proposta evidencia que a seleção de repositórios não é um exercício neutro, mas uma decisão pedagógica informada, ancorada no contexto profissional e nas necessidades dos estudantes.

    Obrigada pela partilha, que acrescenta uma perspetiva muito concreta e aplicada a esta reflexão coletiva sobre Recursos Educacionais Abertos.

    Muito grata
    Votos de um Feliz Natal e Excelente Ano 2026

  4. Está muito bem colocada a fundamentação das escolas que fez. É muito interessante o cuidado que teve na seleção de repositórios que se enquadram na área da pedagogia e TI.
    O repositório da Universidade Aberta é bastante pertinente na pedagogia digital aliado aos materiais íteis que dispõe para as áreas de informática, que como destacou é uma das suas áreas de trabalho.
    A escolha do openLearn foi bem conseguida, pois este reposiório disponibiliza muito material robusto no design instrucional que é uma das minhas áreas de interesse.

  5. Olá Pedro,
    Excelente artigo, muito claro e bem fundamentado como era de esperar da tua parte. A forma como articulas a seleção dos repositórios com a tua prática concreta enquanto docente e coordenador de área de TI torna o texto particularmente relevante e útil, não apenas a nível teórico, mas sobretudo pedagógico e operacional.

    Destaco especialmente a contextualização do Repositório Aberto da UAb, também escolhido por mim, enquanto fonte de investigação aplicada em língua portuguesa, algo que continua a ser crucial para a consolidação de práticas de e-Learning e b-Learning no contexto nacional. Do mesmo modo, a referência ao MERLOT evidencia bem a importância da validação por pares e da qualidade pedagógica dos recursos, aspeto muitas vezes negligenciado quando se fala de REA. Já o OpenLearn surge como um excelente exemplo de boas práticas em design instrucional e de integração entre aprendizagem formal e informal.

    O artigo demonstra de forma muito clara que os REA não são apenas “recursos complementares”, mas instrumentos estratégicos para promover autonomia, inovação pedagógica e alinhamento com as exigências técnicas e éticas da formação em Ciências Informáticas. A tua reflexão final sobre os REA enquanto postura profissional e ética é particularmente pertinente e atual.

    Parabéns pelo contributo — é um texto que inspira e fornece referências concretas para quem procura integrar, de forma consciente e sustentada, recursos educacionais abertos no ensino superior e profissional.

    Continuação de bons trabalhos.

  6. Olá Pedro,
    Gostei bastante do seu trabalho, sobretudo da forma clara como justifica a escolha dos repositórios em função da sua área específica, a Engenharia Informática. Nota-se que as opções não são aleatórias, mas pensadas a partir de critérios muito concretos como a qualidade académica, a validação por pares e a utilidade prática para o ensino superior e profissional.

    Achei particularmente interessante a forma como destaca a promoção da autonomia dos estudantes. Faz todo o sentido em TI disponibilizar bons recursos para aprendizagem autodirigida, até porque é uma competência essencial na área. Também está bem evidente a preocupação com a inovação pedagógica, não apenas do ponto de vista tecnológico, mas também metodológico, ao recorrer a boas práticas já testadas e reconhecidas internacionalmente.

    Reforça que a adoção de REA vai além da tecnologia e se assume como uma postura ética. Essa ligação entre qualidade, inclusão e educação como bem comum fecha muito bem a análise e mostra uma visão madura sobre o papel dos REA no ensino das Ciências Informáticas.

    Saudações Académicas
    Tânia Santos

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